terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta à Cia. Estupor de Teatro


Foi uma sensação maravilhosa. Estranha. Antes, sem tocar nos méritos do espetáculo, amigos. Queridos. Saudades. Bom vê-los. Em cena. Encena? Tocá-los, abraçá-los, beijá-los, ouvi-los repetir os mesmos textos. Pretextos e subtextos. Vê-los em novos cortes de cabelo, cenários, medidas, figurinos. Vê-los de óculos, de franja, esbranquiçados, bonitos. Cansados, preocupados, tensos, bem ou mal humorados. Tê-los. Comigo, conosco. Em nossa nova casa. Nós, de casa nova. Eu a tentava reconhecer e ela me acolhia, mais uma vez. E eu a recebia, sempre.
Apeguei-me ao desapego. E vi, como um espectador comum que eu não era, o fruto, o produto, o trabalho que ajudei a construir. Aplausos. Aplausos? O espetáculo começou. Lindo. Panelas, paredes tecidas. Não cabe? Coube porque se soube trazer, fazer. Aplausos. Acabou. O primeiro. Diferente. Quase indiferente. Bem deferente.
Sorrisos de um sentimento de pretensa impertença. Se já não narro mais pelas significações, a memória me faz sentir, lembrar. Nos olhos, a morte para quem acredita, e viu, ser o passo para uma nova vida. Eu vi a hora de uma outra mãe te dar a luz. A memória ferida. A sua história. A minha história. E lá, na outra margem, eles acenavam para mim dizendo: obrigada... você também está aqui... então, o que achou?...
Achei a história narrada. Alteridade. Resgate, pela memória do esquecimento impossível quando se lembra através dos sentidos, do sentir.
Sim, são pessoas de teatro, do teatro. De apertar parafusos, esquecer textos, emocionar, perscrutar bilheteria, distanciar, fazer planos, projetos. Felizes, ainda, Aracaju, Recife, Porto Alegre, Curitiba. Receberão, com certeza, a nata da alma de quem ama, o profissional amador. Salvador. Estupor.

Carol Vieira
Fortaleza, 20 de maio de 2011

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